Fellet com Fritas – Síndrome do Patrão

23 jul | 1 minuto de leitura
Foto: Dudu Mazzei

A fila para a sala do cinema que exibiria Rocket Man, se fotografada por um drone, formava um extenso caracol humano. Além dela, outras quatro fileiras de espectadores eram controladas pela moça que confere os bilhetes. Solícita e sorridente, ela tirava dúvida dos usuários à espera das sessões e liberava o acesso ao banheiro àqueles que já haviam tomado um barril de Coca-Cola.

Atrás de mim, uma senhora cheirando a perfume importado, com cabelo arrumado em salão e vestida como se fosse a um vernissage de Monet puxou papo comigo:

– Mas que bagunça isto daqui, hein?!

Ao que lhe respondi:

– Poxa, mas só tem uma funcionária para cuidar de tudo, né?

O diálogo morreu ali mesmo e o cadáver só avolumou a desordem do lugar.

Poucos minutos depois, talvez da cauda do caracol, saiu um jovem senhor falando com a atendente no volume das caixas de som da sala de projeção.

– Você só vai liberar esta fila quando o filme já tiver começado, pô?!

Ela, então, cedeu-lhe ao chamado, o caracol se desfez e cada espectador foi procurar seu assento na sala 14 para ver o Elton John.

Depois de chupar dois Mentos e já acomodada na minha poltrona (muito confortável, por sinal), eu queria que um antropólogo interpretasse essa “síndrome do patrão” que alguns brasileiros têm diante de profissionais já sem prestígio social. Que credencial esses gerentões em tempo integral possuem para gritar e mandar em alguém que lhes presta um serviço, embora não seja seu encarregado particular?

Se na literatura antropológica houver uma resposta, ela estará entre os caracteres da escravidão que, infelizmente, não foram deteriorados com o tempo.