Fellet com Fritas: Campeão

04 fev | 1 minuto de leitura
Foto: Dudu Mazzei

Somos campeões desde a gênese. Mas, em algum quilômetro da vida, transferimos nossa medalha de ouro para quem nos desagradou, traiu, subestimou, difamou, oprimiu. Jamais para quem nos chamou para o curso de dança, fazendo-nos esquecer um desafeto, tampouco para quem nos levou a uma palestra motivacional e transformadora.

Perdemos a guarda de nós mesmos para terceiros. Se antes esbanjávamos uma envergadura de vitoriosos, agora nos contraímos perante o primeiro percalço.

De contração em contração, o pingente de ouro que sinalizava que éramos senhores de nós mesmos passa por um desmonte. E reintegrá-lo às vezes leva uma vida inteira.

Recuperamos um pouco do nosso autodomínio quando entendemos que o mau humor, a arrogância, a maledicência alheios pertencem ao folclore particular do outro. E para que visitar esse acervo se a entrada já nos intimida? É preferível seguir o mapa daquilo que ativa o excelso de nós. Aprender a tocar um instrumento musical é uma opção, porque cada acorde aprendido gera efeito de meditação na mente. Renunciar a uma peça de roupa guardada no armário cada vez que se adquire uma nova nutre o ânimo. Elogiar alguém que lhe prestou um serviço também costuma formar uma brisa boa que nos refresca por dentro.

Em certa página da nossa biografia, é inevitável resgatar nosso protagonismo. Aos poucos, invalidamos a credencial de quem quis medir forças com a gente ao longo do caminho e reassumimos as próprias rédeas entre os nossos verdadeiros pares.

Se, nos tropeços vida afora, nossa presença é imprescindível, que não passemos a procuração para ninguém quando vierem as glórias.

Vencer, afinal, é o impulso primordial da condição humana.