Fellet com Fritas: O futuro chegou, mas ainda somos personagens bíblicos
Por Carolina Fellet
Quem foi criança nos anos 1990 deve se lembrar das experiências antropológicas vividas nas jornadas pelo supermercado com a mãe.
Um fenômeno que me chamava muito atenção era o funcionário ficar horas e horas etiquetando produto por produto nas prateleiras.
Atualmente um algoritmo faz as vezes daquele trabalhador que hoje deve padecer de uma escoliose severa, coitado! Além do mais, os hipermercados estão cada vez menos dependentes de material humano para funcionar. A Amazon Go Grocery, em Seattle, é prova disso.
Se muitas profissões estão sendo engolidas pela tecnologia, outras tantas têm surgido justamente dela. Quem imaginaria:
- Que o influenciador digital iria substituir os garotos-propaganda do passado, seguindo uma lógica muito mais “a vida como ela é” para revolucionar as práticas de Marketing?
- Que uma música poderia ser composta somente com sons sintéticos?
- Que transações bancárias realizadas por aplicativos dispensariam horas e horas na fila em agências com o ar-condicionado no modo Escandinávia?
É. O futuro chegou!!! Robôs limpam a casa, Teslas fazem vaga sozinhos, garotinhos de quatro têm série preferida na Netflix, médicos dão diagnósticos e prescrevem medicamentos por videoconferência, aviões só exigem piloto em carne e osso para pousos e decolagens.
O futuro chegou quando posso trabalhar em Minas Gerais, em regime de home office, para uma empresa cuja sede fica na Capadócia. O futuro chegou quando minha pressão arterial é mensurada pelo relógio de pulso e os algoritmos conhecem meu gosto musical.
Porém, ao escavar um pouco essa paisagem futurista, a gente recua a dois mil anos quando não perdoa a falta de likes na nossa foto sem filtro, julga a conduta facebookiana do colega de escritório e printa informações para viralizar a discórdia.
Para essa corrente enferrujada com nosso passado se desintegrar de vez, é preciso esperar o tempo natural dos acontecimentos. O mesmo que decreta as estações do ano, os dentinhos de leite, a braveza do tigre. E essa espera ainda é analógica.