“Temos liberdade para criar”, diz juiz-forano roteirista da Turma da Mônica

30 jan | 4 minutos de leitura

Confira uma entrevista completa com Edson Itaborahy

Edson nos estúdios da Maurício de Sousa Produções.

Ser roteirista é um sonho de muitos brasileiros. A maioria pensa em escrever filmes e séries, mas existem outros mercados que podem ser explorados. Edson Itaborahy, 51, é a prova disso. Juiz-forano e residente na cidade, Edson é roteirista da Turma da Mônica há quase dez anos e tem o privilégio de idealizar histórias incríveis para nossos personagens favoritos: Mônica, Cebolinha, Chico Bento, Cascão, Magali etc.

Neste Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, tivemos um bate-papo bem legal com Edson, que falou sobre liberdade criativa, Maurício de Sousa e revelou uma preferência entre os personagens. Confira abaixo e conheça os elementos que envolvem a Maurício de Sousa Produções a partir do olhar de um roteirista nascido em Juiz de Fora.

Entrevista com Edson Itaborahy:

 

Há quantos anos você trabalha como roteirista da Turma da Mônica?

Trabalho como roteirista desde 2009.

 

Como você chegou na empresa?

Eu fazia quadrinhos desde criança. Mas, quando saí da faculdade, acabei indo trabalhar em outra área. No final de 2008, decidi que queria voltar a trabalhar com quadrinhos e enviei algumas histórias para avaliarem. Eles gostaram e pediram para enviar mais, aí fui aumentando a produção gradativamente.

 

A criação das histórias funciona de que forma? Vocês recebem algo pré-determinado ou criam do zero?

Temos liberdade para criar, desde que não fuja das características dos personagens.

 

O Maurício de Sousa ainda gosta de acompanhar a criação das histórias?

Ele acompanha, sim. Porém, a avaliação dos roteiros agora fica a cargo da filha dele, a Marina.

 

Aproveitando o gancho, o que você tem a dizer sobre o Maurício?

Bem, basta dizer que quase todas as pessoas da minha geração e até um pouco depois aprenderam a ler com a Turma da Mônica. Além de ter criado uma identidade bastante sólida no Brasil e em vários países, o Maurício contribuiu muito para a educação das crianças. E, como pessoa, nem se fala. Sempre muito educado e gentil.

Maurício na sede da Maurício de Sousa Produções. Foto: MSP

Inúmeras pessoas leem as histórias da Turma da Mônica, mas poucas sabem quem são os roteiristas e ilustradores por trás dos quadrinhos. Essa falta de reconhecimento do grande público incomoda?

De forma alguma. Nunca ouvi alguém lá dentro reclamar disso. Acho que incomoda mais ao público que percebe que há diferença de história para história, então quer saber quem são seus roteiristas favoritos. Há alguns anos, já aparecem os créditos no começo das histórias. Mas acho que antes não aparecia porque o Maurício sempre foi também um personagem. Aparece em várias histórias, então foi interessante manter essa mística de que ele estava por trás de toda a criação.

 

Além da Turma da Mônica, você possui outros projetos? Quais?

Escrever para a Turma da Mônica toma bastante tempo. Já lancei dois livros independentes pela Lei Murilo Mendes, mas acaba não sobrando tempo para a gente trabalhar os produtos, então ficam meio esquecidos. Agora estou criando uma estrutura para trabalhar na área de ilustração de livros infantis e pequenas animações.

 

A responsabilidade de escrever histórias para personagens tão famosos como os da Turma da Mônica pode atrapalhar?

O Maurício sempre nos falou para pensar da seguinte forma: “Você acha que isso seria bom para o seu filho?” Se você cria alguma coisa que não é indicada para seu próprio filho, então não serve para o público. É uma questão de bom senso. Nunca senti essa pressão. É claro que sempre existem polêmicas. Hoje, todo mundo tem voz através da internet, então é impossível agradar a todos. Mas a Turma da Mônica tem uma linha de trabalho bem clara, divulgando bons exemplos.

 

Qual é o seu personagem favorito da Turminha?

Chico Bento, né! Porque ele tem aquele jeito de mineiro e a gente sempre se identifica com alguma coisa que aparece nas historinhas dele.

 

Para terminar, se você pudesse redigir uma história de algum super-herói dos quadrinhos, quem seria o agraciado (não vale falar o Capitão Pitoco)?

Na verdade, gosto mais dos vilões, como o Capitão Feio. A MSP (Maurício de Sousa Produções) lançou um selo, Graphic MSP, que vem dando espaço para autores nacionais fazerem uma releitura dos personagens do Maurício. Quadrinhos para adultos, mesmo. Então, podemos ver o Capitão Feio, por exemplo, em uma história como dos super-heróis da Marvel ou DC. Mas, se eu fosse escrever sobre um herói desse tipo, gostaria que fosse um que tivesse um lado mais humano, com conflitos existenciais, como Batman ou Wolverine.