Sem Diversão para a Inteligência dos Alunos: A falta de criatividade no ensino superior

17 nov | 4 minutos de leitura

Será que as faculdades brasileiras conseguem estimular a criatividade dos estudantes?

“Criatividade é a inteligência se divertindo”. Com certa frequência, essa frase ocupa um espaço cativo em quadros, estampas de camisetas ou postagens em redes sociais. Popularmente conhecida como uma das grandes frases do gênio Albert Einstein, o trecho mostra a relevância e a importância da criatividade em nossas vidas. A criatividade é considerada uma das características fundamentais para uma pessoa ser mais inovadora e destacável na sociedade.

Apesar de inerente ao ser humano (todos somos criativos, é algo da nossa espécie), ela pode ser estimulada ou não, e em locais e circunstâncias variados, mas espera-se que esse estímulo seja mais frequente em ambientes educacionais. A realidade vivenciada no Brasil, entretanto, mostra uma ausência criativa nas salas de aula, especialmente nas faculdades, onde os alunos devem ser, constantemente, mais inovadores, visando uma vaga em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e superlotado.

Reconhecido como um dos maiores criativos do país, o CEO da Zola, Adilson Xavier, acredita que falar sobre criatividade e utilizá-la é fundamental nas salas de aula. “Sem ensino fomentador da criatividade, desde o jardim de infância até a universidade, não conseguiremos formar pessoas com capacidade de fazer a diferença”, afirma.

O tema não é muito debatido por conta da falta de percepção dos alunos, que não sabem o quanto podem ser prejudicados pela ausência da criatividade no ambiente educacional. Para Xavier, também é importante saber conceituar a criatividade e os benefícios que ela pode trazer. “Criatividade é a capacidade de enxergar as coisas que todo mundo vê sob um ponto-de-vista inexplorado. Sem profissionais inovadores e criativos, vamos estagnar, mas se essas pessoas forem estimuladas a pensar criativamente, sim, elas serão capazes de transformar a sociedade e gerar felicidade”.

Alguns professores, no entanto, alegam que omitem a criatividade devido à falta de interesse dos alunos, ou seja, não são ousados na didática e no conteúdo por conta dos estudantes. Saulo Monteiro, professor de Arquitetura e Urbanismo, entretanto, discorda desse ponto de vista. “Se há falta de interesse em algum estudante penso que a abordagem de ensino não foi correta com aquele determinado aluno”, diz Saulo, que também ressalta a necessidade vital de professores perceberem quando é hora de passar por mudanças e evoluções. “Se por algum momento acharmos que estamos com a criatividade comprometida, está na hora de fazer uma reciclagem, buscar referências e atualizar-se com a produção atual”.

 

Aulas com Slide

Uma das maiores queixas dos alunos do Ensino Superior Brasileiro é a famosa aula com slide, que nada é mais do que uma aula expositiva na qual o professor faz uma exibição de textos (muitas vezes enormes), vídeos ou fotos para os alunos, sem muita didática. Criticada frequentemente em cursos mais criativos (Cinema, Comunicação, Arquitetura, Artes), esse tipo de aula é rejeitada até mesmo por alunos de cursos mais padronizados.

Formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Eduardo Valle defende que estudar sozinho acaba sendo mais proveitoso do que assistir aulas desse tipo, e que a criatividade também deveria ser mais valorizada em cursos de Saúde e Exatas. “Na minha área, medicina, talvez a criatividade não seja determinante, mas com certeza é um facilitador. No Brasil, muitas vezes o sistema público de saúde não possui recursos suficientes para determinados materiais, e, muitas vezes, médicos conseguiram contornar esses problemas substituindo itens caros por objetos comuns, como garrafas de plástico, modificados para exercerem a função desejada”, diz.

O ponto de vista é o mesmo do advogado Edgard Roland, que na época de faculdade não tinha muito apreço pelas aulas com slide. “Recursos como filmes e slides podem sim ser utilizados, mas a aula ministrada não pode se resumir a isso’, afirma”. E, como dito anteriormente, os cursos mais criativos também contam com professores mais acomodados, que utilizam os Slides e até mesmo plataformas multimídias como “muletas”. “As pessoas se apoiaram tanto em recursos hoje em dia que a criatividade ficou um pouco de lado”, afirma Daniela Almeida, estudante de Publicidade e Propaganda.

Existe uma solução?

O MEC disponibiliza, on-line, um mapa de inovação na educação básica do Brasil, mas não fornece dados referentes ao Ensino Superior. Com isso, fica difícil para os alunos em potencial escolherem as instituições mais criativas e inovadoras. Tentamos um contato com o Ministério, mas não obtivemos resposta para os questionamentos.

Assim como na educação básica, a criatividade também deve ser estimulada no Ensino Superior, e em toda rede educacional. Especialista em desenvolvimento de pessoas, Flávia Mendes, por exemplo, defende a ideia de que o ambiente escolar ainda é muito rígido, tanto para o aluno quanto para o professor. “O sistema educacional deveria contemplar mais a liberdade, porém sem perder o senso de responsabilidade e consequências”, afirma. Também professora, Flávia conta que professores inovadores ainda sofrem com a desconfiança dos companheiros. “Professores que querem inovar não são bem vistos nas instituições, na maioria das vezes. Professores, alunos e instituições precisam trabalhar em conjunto para desenvolver outras habilidades que estão ligadas à criatividade, como por exemplo, flexibilidade, resiliência, curiosidade etc.”.

O caminho para um Ensino Superior mais criativo e didático ainda é longo, mas deve ser trilhado e estimulado, pois um ensino mais inovador pode causar melhorias consideráveis para o nosso país, tanto no campo educacional quanto em outras questões econômicas e sociais. Afinal, como Adilson Xavier diz, “ser criativo é encontrar soluções, e todas as atividades profissionais precisam de gente com ideias para aumentar sua eficácia, atratividade, produtividade e rentabilidade” e o Brasil precisa de pessoas assim com cada vez mais urgência. Em todos os campos.