Aprendemos a valorizar imagens e a ignorar palavras

09 dez | 3 minutos de leitura

Se desafie e leia o textão até o fim

Textão, mimimi, fala muito, fala menos e faz mais, jamais lerei. Essas e outras expressões têm aparecido com frequência nas redes sociais, especialmente após o aumento de manifestações online relacionadas aos problemas político-sociais atuais. No entanto, a desvalorização de discursos coerentes apenas pelo tamanho é preocupante. E é apenas um dos pontos que comprovam um fato: nós temos um desrespeito enorme com as palavras. Especialmente nós, brasileiros.

A população brasileira não gosta de ler, o que justifica muito as crises enfrentadas pelo país desde a sua descoberta. Crises econômicas, políticas e, principalmente, sociais que estão se agravando nos últimos anos. O preconceito e a ignorância estão conseguindo se sobressair até mesmo em ambientes de democratização da tecnologia e a da informação. Como a internet. Essa vitória é um reflexo do que tem acontecido na “vida real”. E a falta de leitura é uma das grandes responsáveis por isso.

A frase “Uma imagem vale mais que mil palavras”, por exemplo, tem sido utilizada com muita frequência, além de ser tratada como uma verdade absoluta. Sempre fui um crítico ferrenho dela, por vários motivos. Acredito que uma imagem pode valer, em alguns casos, o mesmo que mil palavras. E se vale mais é porque as palavras não estão sendo empregadas corretamente.

É sensacional a valorização que fotógrafos, ilustradores e designers têm conseguido nos últimos anos. Afinal, fotos, desenhos, gráficos, etc, são recursos comunicacionais e artísticos belíssimos. Contudo, não devemos consumir apenas isso. As novas gerações (incluindo a minha) estão esquecendo que palavras podem ser tão bonitas quanto uma fotografia. Mas a preguiça não permite que elas descubram isso.

A situação é preocupante.

Estamos formando usuários e especialistas em redes sociais que não conseguem escrever um texto de tamanho razoável sem erros grotescos de português e que não leem um post de sete linhas por ser muito extenso. Já criaram até o ALERTA-TEXTÃO, para poupar os outros de lerem seus pensamentos, que deveriam ser compartilhados e, obviamente, lidos. E aí vem um problema: poucos querem ler, mas muitos querem opinar.

O layout de uma publicidade tem se tornado mais importante do que uma ideia, assim como escrever muito é uma característica de pessoas chatas e petulantes. Muitas vezes elas realmente são, mas isso não quer dizer que você não possa ler o que têm a dizer. Mesmo porque, um texto bem-escrito não precisa, necessariamente, abordar pontos de vista semelhantes aos seus. Ler argumentos contrários, por sinal, é uma atitude essencial para enriquecer um debate e uma sociedade.

Hoje posso dizer que não convivo com analfabetos. Ler e escrever são coisas básicas para os membros de minha classe social. Entretanto, posso afirmar que convivo, cada dia mais, com pessoas que escolheram ser ignorantes, e tudo isso pela preguiça da leitura e pela implicância com quem, diferente deles, gosta de escrever. Infelizmente, nós aprendemos a valorizar imagens e passamos a ignorar palavras, sendo que é possível manter o mesmo sentimento de valorização por ambos os recursos.

E sim, as redes sociais e a falta de capacidade narrativa influenciaram muito nisso. Argumentos vazios e verdades absolutas criadas por nós mesmos estão ganhando cada vez mais espaço, enquanto o conhecimento e a veracidade vão se esvaindo.

Se você chegou até este momento do texto, muito obrigado, você entendeu a mensagem, por mais que me ache chato e petulante. Agora, vá ler ou escrever um livro (ou um textão no Facebook, se ainda não se sente preparado para largar o vício). O mundo precisa de boas palavras, pois sem elas ficaremos mudos. Ou burros…