Conheça a juiz-forana que criou um coral com repertório baseado no rock

15 out | 8 minutos de leitura

Hoje é dia de rock e de história, bebê

Coral “Let’s Rock!” – Foto: Vinícius Gonçalves

Muitas pessoas que possuem a música como companhia de vida, começam com essa paixão desde pequenas. Esse é o caso de Daniele Espíndola, musicista e juiz-forana que trabalhou na Sérvia dando aulas de piano para a embaixadora do Brasil no país, já rodou a Europa em cursos e concertos e atualmente é diretora do Coral Let’s Rock, que possui um repertório regado por músicas de rock.

A história de Daniele com a música começou quando ela ainda era criança. Sua avó tocava piano, mas com a idade avançada, ela não se recordava muito bem da atividade. Para exercitar, a avó de Daniele ganhou um pequeno teclado. A neta também começou a praticar algumas músicas naquele objeto, sempre tocando canções que conhecia. Com cinco anos de idade e sem ninguém para ensinar, a menina já tocava suas músicas preferidas no piano, apenas escutando-as. Com o apoio do pai, ela ganhou teclados maiores para desenvolver a habilidade e continuou tocando músicas apenas por escutá-las. O primeiro contato de Daniele com a teoria musical foi apenas com 13 anos de idade.

Daniele Espíndola – Foto: Vinícius Gonçalves.

A trajetória de estudo 

Daniele afirma: “Ser musicista é estar sempre aprendendo e estamos sempre em evolução“. A trajetória de Daniele começou cedo, com apenas 5 anos e tocando sozinha. Com 13 anos ela começou a fazer aula de piano e aprendeu a tocar violino. “Eu desenvolvi esses conhecimentos muito rápido, tanto de piano quanto de violino. Fui chamada para fazer parte da Orquestra Jovem do Pró Musica. Comecei a dar aulas de piano e violino com 18 anos“, conta Daniele.

Por não ter, na época, faculdade de música em Juiz de Fora, Daniele prestou vestibular para Psicologia, mas acabou abandonando o curso, pois decidiu seguir a música como carreira. Ela fez o vestibular para estudar bacharelado em piano, na UFMG e foi aprovada. Durante 5 anos em que morou na capital mineira, a moça continuou dando aulas e aprendendo. “Tive contato com um professor paulista em Juiz de Fora, o Antônio Bezzan, e comecei a fazer aulas regulares em São Paulo. Enquanto estive em Juiz de Fora, tive aulas com o professor André Pires. Após isso, fui para o Rio de Janeiro fazer mestrado em Música na UFRJ, trabalhando a performance musical em Piano. Nesse período também lecionei em escolas”, explica Daniele. 

 

Experiência internacional

Daniele contou que uma experiência internacional para quem trabalha com música é quase necessária. Durante a carreira, a musicista viajava até a Europa para participar de concertos e de cursos com professores renomados. “Na Europa existem muitos festivais de verão e esses eventos são academias musicais nas férias. São convidados professores do mundo inteiro para ministrarem aulas para os estudantes. Durante a temporada vamos cursando as aulas e tendo contato com diversas culturas. No final do curso, o grupo faz uma apresentação para concluir”, diz Daniele.

A musicista conta que já tocou em um concerto em Roma, num teatro de mil anos, fez aulas no interior da Itália, em Amsterdã. “Além disso, fui a única latino-americana a participar de dois cursos de música, um em Viena, na Áustria e um na República Checa, numa cidade chama Pilsen (sim, foi a cidade onde a cerveja pilsen foi inventada) e na Itália, fiz um curso com um professor que lecionava na Universidade de Cleveland, nos EUA. Para encerrar o curso, tocamos no Museu Arqueológico de Nápoles e até encontrei com brasileiros por lá”. conta Daniele.

Foto: Brenda Marques

 

Residência na Sérvia

Depois de ter adquirido uma experiência internacional, Daniele foi atrás de mais uma, porém sem interesse direto na musica. A cidade escolhida foi Belgrado, na Sérvia. Isso porque a musicista estava em um relacionamento com um sérvio e esse foi o destino escolhido. Durante o período residindo em terras sérvias, Daniele conta que a experiência foi fantástica. “Sou apaixonada por aquele país e Belgrado é uma cidade que guardo excelentes recordações. As pessoas são receptivas e gostam de brasileiros. Lá eu tive contato com pessoas do mundo todo e foi enriquecedor”, conta a musicista.

Os trabalhos em Belgrado

Daniele trabalhou no coral Brazilian Choir e acabou desenvolvendo um intercâmbio cultural entre Brasil e Sérvia. O coral era composto por sérvios e cantavam músicas brasileiras. O grupo contou com o apoio do Espaço Cultural da Embaixada do Brasil em Belgrado.

Daniele ensinava a pronúncia correta e traduzia as músicas para o inglês, pois ainda não tinha maiores intimidades com a língua sérvia. “Ensinei entonações, o que cada música significava, falava sobre os compositores, contextos e regiões das canções. Cantávamos de tudo: MPB, samba, bossa nova e músicas de compositores clássicos brasileiros, como Padre José Maurício (foi professor de música, maestro, multi-instrumentista e compositor)”, explica Daniele.

Além do coral, Daniele ainda ministrava aulas particulares para pessoas de diversas regiões. “Tinha uma aluna que era filha de grega com mexicano, tinha alunos sérvios, franceses e belgas e as idades também eram variadas. Também dei aulas particulares de piano para a embaixadora do Brasil na Sérvia. Com certeza essas experiências foram enriquecedoras“, conta.

 

Pianistas Daniele Espíndola, Alessandra Feris e Diego Caetano com a Embaixadora do Brasil na Sérvia, Isabel Cristina de Azevedo Heyvaert.

Benefícios de estar em terras sérvias

Daniele já destacou a importância de uma experiência internacional de quem trabalha com música, especialmente piano e aspectos da música clássica. Ela conta que escolher a Sérvia foi uma ótima escolha, já que o país é musical, com uma tradição muito forte e a população é extremamente musical.

A musicista conta que enquanto estava morando lá, ela aproveitou as oportunidades. “O ensino em música é excelente. Havia muitos concertos e óperas e tudo isso era muito barato e acessível, alguns até gratuitos”, explica Daniele.

Foto: Vinícius Gonçalves

O retorno ao Brasil

Ainda na Sérvia, Daniele começou a planejar seus passos no Brasil. Com metas traçadas e o pensamento de readaptar a vida, a musicista chegou a conclusão que queria trabalhar com os aspectos que gostava muito. “Quis unir algumas coisas como trabalhar com coral, tocar piano (pois no coral eu tocava o piano para fazer a base musical) e também queria cantar. Além disso, eu amo rock, apesar de ser uma cria da música erudita e clássica, eu gosto demais de outros estilos musicais. O que eu mais aprecio é o rock. Então parei para pensar: nunca ouvi falar de um coral que fosse dedicado ao rock, pelo menos no Brasil”, explica Daniele.

Após três anos morando em Belgrado, na Sérvia, Daniele retornou ao Brasil e o Coral Let’s Rock nasceu.

 

Coral Let’s Rock

O Coral Let’s Rock já passou por aqui e nos apaixonamos pela história (LEIA AQUI). Ele nasceu com o retorno de Daniele ao Brasil e em janeiro de 2018 já estava criado. Ele é o primeiro e único coral da cidade voltado totalmente para o repertório de rock e suas vertentes. “Nós utilizamos o piano como base e todos os arranjos são desenvolvidos especialmente por mim, para o coral. Não tem nenhum material na internet que seja semelhante ao que eu desenvolvo para o grupo. Eu faço a separação das vozes, o que cada um faz, a forma de cantar, a entonação. Porque nós cantamos as músicas com atitude e entonação do rock e não com voz de música erudita ou canto lírico. Nosso coral sempre surpreende com a atitude“, conta Daniele.

O projeto foi criado e divulgado pela Internet. Um foi chamando o outro e espalhou. As pessoas assistiam os vídeos e procuravam Daniele. “O grupo cresceu e desenvolveu muito. Nosso objetivo é fazer amizades com o poder da música, dividir histórias e experiências, sair do comum, divertir pessoas e nos divertir, surpreender, quebrar tabus e mostrar que em um coral tudo é possível, inclusive cantar rock”, explica a musicista. 

Daniele conta que o grupo traçou um panorama variado de trabalho, sempre envolvendo o rock e suas vertentes. “Trabalhamos com músicas que marcaram gerações, canções de estilos e épocas variadas, grupos reconhecidos. Vamos do rock clássico ao pop-rock, nacional, metal e o indie rock. Já apresentamos versões de Legião Urbana, The Beatles, Pink Floyd”, diz Daniele.

 

Planos para o futuro

Daniela afirma: “Sou meio cigana, então não penso em sair de Juiz de Fora agora. Acredito muito no Let’s Rock e temos muita coisa para fazer com o grupo, inclusive coisas surpreendentes (fiquem ligados!). O melhor é que Juiz de Fora está tendo diversos espaços culturais novos e prontos para receber outras culturas. As pessoas também estão abertas a conhecerem novas tendências“, conta Daniele.

Registro lindo do Vinícius Gonçalves de nosso coral cantando "Hound Dog", versão de Elvis Presley. Apresentação do Coral "Let's Rock!" Dança: Bruno Johnson Muito gratificante a experiência, obrigada ao Coral "Let's Rock!", ao querido público que nos prestigiou na igreja São Mateus e ao regente Victor Cassemiro que nos recebeu com tanto carinho e consideração! Obrigada e parabéns à todos os demais corais que abrilhantaram a noite! Bravi! 🤘#coralletsrockjf #encontrodecorais #rock #coral #juizdefora #cantar #hounddog #elvis

Posted by Coral "Let's Rock" – Juiz de Fora on Tuesday, September 4, 2018

 

Dica de Daniele

Daniele destaca que os interessados em seguir a carreira na música precisam de alguns passos: “Metas! Se você não tem metas a seguir, não traça planos, vai ser um pouco complicado. Na música, precisa ter paciência e determinação“, explica.

 

 

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