Tá Bombando: Músicas para refletirmos sobre a sociedade em que vivemos

05 out | 9 minutos de leitura

 

Não é segredo para ninguém que a música tem poder! Para a maioria das pessoas, ela é uma forma de expressar sentimentos, desejos, frustrações pessoais ou, até mesmo, de criticar os problemas que afligem a sociedade. Vivemos numa sociedade cheia de problemas: pobreza, guerra, racismo, homofobia, padrões de beleza desumanos, machismo…

Por vezes achamos que não podemos fazer nada para mudar o mundo. Mas o fato é que nós podemos (e não só nas urnas!). Até pequenas atitudes podem, sim, fazer a diferença. Pensando nisso, vários artistas do mundo da música, através de suas canções, conseguem mudar paradigmas, influenciar pessoas ou, pelo menos, inspirá-las a fazer algo pela sociedade.

Abaixo você confere uma playlist de músicas que vão te ajudar a refletir sobre o mundo em que vivemos. Muitas delas você, provavelmente, nem conhece e/ou nunca ouviu falar, mas vale a pena conferir. Aperte o play e inspire-se!

 

Que País É Esse? – Renato Russo

“Que País É Esse?” também é o nome do terceiro disco do grupo de Brasília. Composta por Renato Russo em 1978, ainda na fase do grupo Aborto Elétrico, foi lançada somente em 1987. A letra ácida critica diretamente a política vigente e mostra o descontentamento vivido pela população no período de regime militar.

 

Cowboy Fora Da Lei (1987) – Raul Seixas e Cláudio Roberto

O “Maluco Beleza” lançou, também em 1987, a faixa “Cowboy Fora Da Lei”, parceria com Cláudio Roberto. A letra, logo no início, debocha da forma arcaica e coronelista que fundou grande parte da nossa política. “Mamãe não quero ser prefeito/Pode ser que eu seja eleito/E alguém pode querer me assassinar”.

 

Brasil – Cazuza

A música que ficou famosa pelos dizeres “Brasil, mostra tua cara” atacava o status quo do momento e até hoje se mantém atual. Brasil!
Trecho: “Mostra tua cara/Quero ver quem paga/Prá gente ficar assim
Brasil!/ Qual é o teu negócio?/O nome do teu sócio?/Confia em mim…

https://www.youtube.com/watch?v=UDuoe729egU

 

Vem Pra Rua – O Rappa

Poucas semanas após ser lançada, a música da campanha da Fiat para a Copa das Confederações Fifa 2013 começou a ser usada em vídeos que mostram os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus e a ação da Polícia Militar de São Paulo. A campanha convoca a torcida brasileira para ir às ruas com seguinte refrão: “vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”. Trecho:  Vem, vamo pra rua/ Pode vir que a festa é sua/ Que o Brasil vai tá gigante/ Grande como nunca se viu/ Vem, vamo com a gente/ Vem torcer bola pra frente/ Sai de carro, vem pra rua/ Pra maior arquibancada do Brasil

 

Alegria, Alegria – Cateano Veloso

Foi lançada em 1967 e trabalhava com a ironia a partir de fragmentos do cotidiano. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares durante a Ditadura. Trecho: O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonitas/Eu vou

 

É Proibido Proibir – Caetano Veloso

Lançada em 1968, esta canção era uma manifestação das grandes mudanças culturais que estavam ocorrendo no mundo na década de 1960. Trecho: Me dê um beijo meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chamas / Derrubar as prateleiras / As estantes, as estátuas / As vidraças, louças / Livros, sim

 

Cálice – Chico Buarque

De 1973, a canção faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. A ideia de Chico Buarque era que para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Daí, ele resolveu explorar a sonoridade e o duplo sentido das palavras “cálice” e “cale-se” para criticar o regime instaurado. Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta

 

Apesar de Você – Chico Buarque

Lançada em 1970, durante o governo do general Médici. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja mulher era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, mas os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios. Trecho: Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro! / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escuro

 

Jorge Maravilha – Chico Buarque

Chico criou os versos “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, para o que parecia se tratar de uma relação conflituosa entre sogro, genro e filha. Mas a real intenção era aludir à família do general Geisel. O militar odiava Chico Buarque, no entanto, a filha dele manifestava interesse pelo trabalho do compositor. Trecho: E como já dizia Jorge Maravilha / Prenhe de razão / Mais vale uma filha na mão / Do que dois pais voando / Você não gosta de mim, mas sua filha gosta

O Bêbado e o Equilibrista – composta por Aldir Blanc e João Bosco

Gravada por Elis Regina, em 1979, representava o pedido da população pela anistia ampla, geral e irrestrita, um movimento consolidado no final da década de 1970. A letra fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão às esposas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, morto durante o período. Trecho: Que sonha com a volta / Do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora! A nossa Pátria Mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil

 

É – Gonzaguinha

Grande parte do público sempre associou Gonzaguinha às músicas de protesto e de resistência à ditadura militar, mas que tinham também esperança de que a situação melhorasse. Trecho: A gente quer viver a liberdade/ A gente quer viver felicidade/ A gente não tem cara de panaca/ A gente não tem jeito de babaca/ A gente não está/ Com a bunda exposta na janela/ Pra passar a mão nela Assista ao vídeo e conheça a letra.

 

Geração Coca-Cola – Legião Urbana

Lançada em 1985, na música é possível notar o tom de indignação contra a soberania norte-americana sobre o Brasil e os demais países. Trecho: Quando nascemos fomos programados/ A receber o que vocês/ Nos empurraram com os enlatados/ Dos U.S.A., de nove as seis/ Desde pequenos nós comemos lixo/ Comercial e industrial/ Mas agora chegou nossa vez/ Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.

Mosca na Sopa – Raul Seixas

De 1973, esta canção já foi considerada bastante controversa. Em uma de suas interpretações propostas, há a metáfora de que o povo é a “mosca” e, a ditadura militar “a sopa”. Desta forma, o povo é apresentado como aquele que incomoda, que não pode ser eliminado, porque sempre existirão aqueles que se levantam contra regimes opressores. Trecho: E não adianta / Vir me detetizar / Pois nem o DDT / Pode assim me exterminar / Porque você mata uma / E vem outra em meu lugar

Homem na Estrada – Racionais Mc’s

Questionadoras, as músicas dos Racionais não podem ser esquecidas. Esta põe em pauta as situações precárias em que muitos brasileiros vivem. Trecho: Equilibrado num barranco incômodo, mal acabado e sujo/ porém, seu único lar, seu bem e seu refúgio/ Um cheiro horrível de esgoto no quintal/ por cima ou por baixo, se chover será fatal/ Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou/ Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou.

 

Polícia – Titãs

É uma canção que critica as ações policiais e a forma como a sociedade vê a polícia inserida nela. Foi escrita por Tony Bellotto após ter sido preso junto com Arnaldo Antunes por porte de heroína, e é cantada aos gritos, o que faz parecer um sentimento de raiva. Trecho: Dizem que ela existe/ Pra ajudar!/ Dizem que ela existe/ Pra proteger!/ Eu sei que ela pode/ Te parar!/ Eu sei que ela pode/ Te prender!/ Polícia!/ Para quem precisa/ Polícia!/ Para quem precisa/ De polícia.

Admirável Gado Novo- Zé Ramalho

Clássica canção, “Admirável Gado Novo” foi escrita em 1979, mas continua muito atual. A letra faz crítica ao sistema capitalista e aos políticos brasileiros. “É duro tanto ter que caminhar/ e dar muito mais do que receber” canta Zé Ramalho, falando do quanto pagamos ao governo e o pouco que recebemos de volta.

Gabriel O Pensador- Matei o Presidente e Matei o Presidente 2

Essa é a versão atualizada do rap que lançou o Pensador na cena brasileira em setembro de 1992. A canção tornou-se um sucesso em um período onde o Brasil passava pelo impeachment do presidente Collor, chegou a ser proibida em rádios pelo país e marcou o início da carreira do cara. Com trechos como “Derrubaram algumas peças mas a mesa tá difícil de virar”, “Áudio e vídeo divulgados, crime escancarado, mas nem é julgado” e “Se todos os corruptos morressem de repente, ia ser tudo diferente, ia sobrar tanto dinheiro que andaríamos nas ruas sem temer o tempo inteiro”.

 

Gabriel O Pensador – Chega

A letra menciona temas como impunidade, violência, inflação, carga tributária, precariedade do sistema de saúde e educação, escândalos de corrupção e até a crise hídrica. “Chega! Que mundo é esse? Eu me pergunto! Chega! Quero sorrir, mudar de assunto!/ Falar de coisa boa/ Mas minha alma ecoa /Agora um grito E eu acredito que você vai gritar junto”.

 

Bônus:

War – Bob Marley

Bob Marley lançou a música “War (Guerra)”, em 1976. A música foi inspirada num discurso feito pelo imperador etíope Haile Selassie na Assembléia Geral da Liga da Nações (futura ONU) em 1936. Versos como “até que a cor da pele de um homem não tenha maior significado que a cor dos seus olhos” ou “até que todos os direitos básicos sejam igualmente garantidos para todos/ sem privilégios de raça, haverá guerra”fazem crítica a uma sociedade desigual. Bastante atual, não?