Conheça Maia Maria, legalmente mulher e com nome social

24 set | 5 minutos de leitura

Ela conseguiu mudar o nome na certidão de nascimento 

Como Maia Maria Pereira disse: “Agora tudo faz sentido…. Meu nome é Maia Maria Pereira e legalmente sou uma mulher”. Maia se chamava Marlon, estava comprovado em sua certidão de nascimento. Mas já não havia identificação com o sexo masculino. Marlon gostaria de ser o que sentia por dentro, no coração e na mente. Marlon gostaria de ser Maia.

Acompanhada por um psicólogo, ela entendeu que essa mudança precisava ser feita. Foi buscar informações, gostaria de retificar seu nome na certidão de nascimento.

Quando eu pensei na retificação do sexo na certidão, eu fui pesquisar na internet. Todos os sites diziam que eu só poderia retificar o sexo após o processo cirúrgico. Mas o nome eu poderia fazer. Fui a um cartório para tirar dúvidas e recebi orientações sobre os documentos necessários”, diz Maia.

Com essas informações, Maia correu atrás das certidões que precisava. Com a papelada toda certa, bastava escolher um nome.

A escolha do novo nome

“Estava pensando em escolher um nome com M para manter a tradição de casa. O nome das minhas irmãs e de minha mãe começam com M. O meu era Marlon, então senti essa necessidade. Sabia que Maria iria entrar em meu novo nome, pois esse é o nome de minha mãe e queria homenageá-la. E Maria tem aquela fama de ser guerreira, e todas de minha família são fortes e guerreiras”, completa. 

Maia, que até então só era Maria, foi pesquisar outros nomes e encontrou Maia que significa “grande, água”. Já estava definido o segundo nome.

Maia significa tudo o que eu queria, então não tive dúvidas. Tinha escolhido um nome, mas não poderia mexer no sobrenome, então coloquei Maia Maria Pereira”.

Presença no YouTube

Maia Maria está contanto toda a mudança que está vivendo em seu canal no YouTube. Ela diz que gostaria que seus seguidores entendessem o que estava acontecendo e que não fossem surpreendidos apenas com a mudança do nome no perfil.

Eu tinha que preparar um terreno para que todas as pessoas começassem a se acostumar com essa ideia. Queria que pessoas próximas entendessem o que eu estava vivendo e não é uma fase fácil. Minha psicóloga me aconselhou a gravar os vídeos, meus professores da faculdade de Artes e Design me incentivaram a criar obras ou algo artístico com essa fase. Os vídeos serviram para eu me acalmar e para que eu pudesse entender tudo o que estava passando, diz Maia.

 

A cabeça das pessoas

Perguntamos a Maia como ela se sente quando alguém a trata como Marlon ou usando palavras no masculino. Ela diz que não possui vergonha em corrigir, que pede para que as pessoas a tratem como Maia Maria, pois esse nome a representa.

São coisas pequenas, mas para quem está passando por esse processo é importante ser identificado como tal e é significativo que as pessoas te vejam dessa forma. Mas também entendo que é um processo e que as pessoas precisam entender.

A aceitação da família

Maia conta que o apoio da mãe é enorme e por isso a homenagem em seu nome. Já as irmãs, Maia conta que fez uma reunião familiar e contou a novidade.

Minhas irmãs estão acostumando com a ideia. Mas acho que elas não imaginaram que essa mudança ia ser imediata. Mas elas se preocupam comigo e querem me ver feliz. Esses dias, recebi uma mensagem de uma tia falando que contou sobre a mudança de nome para a minha avó. Minha família é de cidade pequena, então pensei que por isso, pudessem ter mais preconceito e mente fechada, mas não, eles me deram todo o apoio. Creio que essa questão familiar não me impede, mas me dá forças para continuar”, diz Maia.

Limpando o armário

Maia gravou um vídeo em seu canal fazendo uma limpeza em suas roupas.

https://www.youtube.com/watch?v=Cckul0CvLOk

Vi uma frase uma vez falando o seguinte: ‘Não tem como tirar privilégios de quem nunca teve’. Eu comprava e usava roupas femininas, mas para nossa sociedade isso é um pouco errado. Essa limpeza foi importante, pois a partir daquele momento eu estava adequando a minha aparência a minha identidade. Agora estou vivendo o que eu sou”, diz Maia.

 

Os hormônios

Para realmente ser Maia, a estudante queria ver essa mudança em seu corpo. Buscou ajuda médica particular, não sendo bem atendida. Pesquisando na internet sobre o assunto, Maia descobriu que o SUS possui profissionais especializados na área de transexualidade. Ela conseguiu marcar uma consulta, foi bem recebida e, agora, possui uma equipe de profissionais acompanhando o processo. A endocrinologista receitou a ingestão do hormônio feminino e agora Maia está dando continuidade ao tratamento.

“Todos os médicos, que são do Hospital Universitário de Juiz de Fora, precisam estar em contato. Hoje continuo fazendo acompanhamento psicológico, nutricional, para evitar efeitos colaterais dos hormônios e vou começar a fazer tratamento psiquiátrico”, completa Maia.

Há dois meses no tratamento hormonal, Maia conta que já percebe algumas diferenças. “Algumas coisas não são tão visíveis, mas sinto que minha voz afinou bastante e percebo muita diferença em relação ao humor. Estou tomando estrogênio, que é um hormônio feminino, então parece que todo mês estou de TPM. Creio que no quarto mês de tratamento, a diferença será maior. Estou fazendo atividade física para que meu corpo fique mais feminino, com mais curvas”, explica.

 

Cirurgias?

Maia conta que pretende fazer cirurgias, mas nada está definido.

Pretendo fazer algumas cirurgias, pois tem coisas a mais no meu corpo que não precisam estar aqui. Estou conversando com a minha psicóloga sobre isso, então prefiro não especificar muito, pois não depende apenas de mim”, completa Maia.

Futuro como mulher

Perguntamos a Maia como ela quer se ver no futuro e a resposta foi categórica: “Quero levar uma vida normal, terminar a faculdade, ser tratada como uma mulher normal”.

 

Dicas e conselhos de Maia

Para quem está vivendo uma fase parecida ou está pensando nisso, Maia passou algumas dicas:

“Cada processo é único, cada transição é única. Uma dica que eu deixo para quem estiver passando por esse mesmo processo é: procure médicos capacitados que vão te ajudar e não atrapalhar. Busque a maior quantidade de informações que você conseguir. Faça acompanhamento psicológico e psiquiátrico, pois é importante para nos conhecer. Tente entender que isso não te torna mais nem menos que ninguém, a gente continua sendo uma pessoa normal,” finaliza Maia.

 

 

[vejatambem]