Fellet com Fritas: Cio Feminino
Por Carolina Fellet
A propaganda da Sempre Livre começa assim: “eu menstruo”. Foi ouvir a frase entre um clipe e outro no YouTube para eu ser arremessada à adolescência e reviver a dor de um baita tapa na cara.
Minha então “irmã australiana”, que ficou morando por um ano lá em casa através do programa de intercâmbio do Rotary Club, me repreendeu com argumentos mais doloridos que golpes de boxe. Isso porque, perante outros parentes meus, inclusive primos, lhe queixei espontaneamente de uma cólica tão intensa; mais parecia trabalho de parto.
Tal como no Japão é inadmissível um homem sentar-se à mesa sem camisa para fazer alguma refeição, na Austrália – descobri ali na reprimenda – uma mulher falar da própria menstruação equivale ao oitavo pecado capital.
Mas, mesmo depois da bronca intercontinental, não me rendi. Se me mantenho ré primária em outras transgressões, na de reclamar do ciclo menstrual, sou reincidente. Já me lamentei até com namorado, pai, irmão, companheiros de trabalho, professor de ioga e com o meu par de assento no ônibus. E todos foram muito solidários à natureza feminina que por vezes castiga.
Na terra dos cangurus e ornitorrincos, talvez eu seja a Maria de Magdala 2 mil anos depois. No Brasil, todavia, se eu reclamava de menstruação há 20 anos e somente agora esse tabu é quebrado nos comerciais, posso me considerar uma mulher de vanguarda. Ou não?