Conheça a história da juiz-forana Martha Halfeld, juíza que trabalha na ONU

06 ago | 5 minutos de leitura

Experiência e gabarito internacional

Foto: Arquivo Pessoal

A redação de Ombrelo sempre destaca histórias de profissionais juiz-foranos que fazem a diferença com seus trabalhos pelo mundo. Já contamos aqui, por exemplo, sobre a carreira de Juliana Morais, que nasceu em Juiz de Fora e hoje desenvolve pesquisas para a NASA. Dessa forma, mostramos os talentos da cidade que se esforçaram ao máximo para realizar seus sonhos e conquistar seus objetivos.

Nossa personalidade de hoje é a juíza do trabalho Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt. Em entrevista à Ombrelo, ela conta que no segundo ano da Faculdade de Direito surgiu um concurso de nível médio para a Justiça do Trabalho. Por insistência da mãe, acabou fazendo as provas e foi aprovada. A partir daí, a vida de Martha mudou completamente, pois ela passou a ter contato não só com a teoria do Direito (na faculdade), mas também com a prática (no trabalho). “Foi a partir da admiração que nasceu com os juízes com quem trabalhei que surgiu meu interesse em também ser juíza e contribuir de modo mais dinâmico para o equilíbrio da relação entre o capital e o trabalho”, comenta a juiz-forana.

Foto: Arquivo Pessoal

Carreira fora do país

Martha Halfeld é graduada em Direito pela UFJF. Em 1994 passou no concurso para magistrada em 1º lugar. Alguns anos depois, foi para o exterior estudar em uma das universidades mais difíceis, em Paris. “Foi um verdadeiro desafio. Dormi algumas vezes segurando os livros, tanto era o cansaço”, explica Martha.

Em 2000, retornou ao Brasil com dois diplomas, o ultimo de mestrado, mas antes se inscreveu no doutorado. “Foi difícil conciliar trabalho e a redação da tese, em francês, mas o resultado foi ótimo!”. Em 2004, Martha obteve o título de Doutora em Direito pela Universidade de Paris II (Panthéon-Assas), a mais tradicional na França. “Esse título me abre portas até hoje e tenho certeza de que muito contribuiu para minha eleição para o cargo que hoje ocupo na ONU”, explica.

Foto: Arquivo Pessoal

Juíza independente na ONU

A brasileira explica que ficou sabendo da oportunidade para trabalhar na Organização das Nações Unidas (ONU) através de um anúncio do tribunal interno. Ela conta que compôs uma lista de oito nomes para eleição da Assembleia Geral da ONU. Havia apenas quatro vagas, mas com o apoio do Itamaraty, conseguiu o maior número de votos.

“Minha eleição ocorreu em novembro de 2015, mas exerço o cargo desde julho de 2016, quando tomei posse. Os desafios são enormes, começando pela língua, porque todas as minhas provas foram realizadas em francês, mas agora preciso me comunicar e escrever em inglês! Por isso, contactei antigos professores e me inscrevi em cursos intensivos de inglês, estudo em quase todas as minhas horas vagas”.

Foto: Arquivo Pessoal

A juíza, da 3ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora (MG), é a primeira integrante da magistratura brasileira a ser eleita para o cargo de juíza do Tribunal de Apelação do Sistema de Justiça Interna das Nações Unidas (Unat).

O Unat é uma corte de apelação estabelecida pela Assembleia-Geral para recursos contra decisões proferidas pelo Tribunal de Disputas das Nações Unidas (UNDT). A sede do tribunal fica em Nova York, mas também existem sessões em Genebra (Suíça) e Nairobi (Quênia).

 

Projetos importantes

Na jurisdição nacional, Martha contribui para o desenvolvimento da cultura da resolução consensual de conflitos. “Nela, os próprios envolvidos buscam atingir uma solução adequada, voluntariamente. Como as opções de solução nesta busca muitas vezes ultrapassam o que está previsto na lei, têm potencial para melhor atender aos interesses dos envolvidos. Eu me lembro de um caso, há muitos anos, em que uma coordenadora de colégio foi dispensada por justa causa, mas, depois de umas audiências em que, mesmo sem saber, atuei como verdadeira mediadora, chegou a um acordo com o colégio em que uma das cláusulas era a permanência do filho pequeno na escola até a conclusão do 2º grau, com a única condição de não repetir de ano. Para ela, essa cláusula foi importantíssima, mas nenhuma decisão judicial poderia estabelecer essa obrigação, que não está prevista na lei ou em convenção coletiva. Precisamos reconhecer os próprios erros e dialogar com transparência e gentileza, com empatia. Muitos conflitos poderiam ser evitados ou resolvidos com uma boa conversa de boa-fé!”, explica Martha Halfeld.

Foto: Arquivo Pessoal

Dicas para os futuros profissionais

A juiz-forana reforça que o Direito é uma dinâmica, então o estudo e atualização são fundamentais para a o sucesso no mercado de trabalho. Ela explica que mesmo assim, um bom currículo, mesmo com cursos de pós-graduação, não é certeza de sucesso. É importante ter um bom relacionamento com os colegas de trabalho. A fluência em uma segunda língua, por exemplo, sempre é valorizada e muitas vezes pode fazer uma diferença enorme para o futuro profissional.

Foto: Arquivo Pessoal

Direitos Humanos

“Acredito que nossa sociedade ainda precisa evoluir em matéria de igualdade de gênero, um direito humano básico que influencia enormente o desenvolvimento socio-econômico de um país. Ainda existem desigualdades profundamente impregnadas em nossa sociedade. Muitas vezes, as mulheres e meninas ainda não têm as mesmas oportunidades de educação ou serviços de saúde adequados, não têm acesso a planejamento familiar e os salários para trabalho equivalente são frequentemente menores. Nas esferas elevadas de poder, as mulheres são subrepresentadas na política e nos processos de tomada de decisão econômica, tanto na esfera pública quanto na privada. Todos os estudos nesse sentido apontam que a participação feminina na educação e na economia contribui para o crescimento e a produtividade de um país e do mundo”, encerra Martha Halfeld.

Foto: Arquivo Pessoal